Doses altas de vitaminas D podem levar à intoxicação
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Muito se ouve falar sobre os benefícios da vitamina D e o quanto ela é importante principalmente na saúde óssea, garantindo a chegada de cálcio ao osso. Mas o "boom" em torno dessa vitamina foi e é tão grande que sua suplementação corre o risco de ser exagerada, elevando-se também o risco de intoxicação.
"O que se tem visto é que algumas pessoas
consomem um coquetel diário de suplementos vitamínicos e alimentares comprados
na farmácia ou em sites, e é comum que cada um deles tenha um pouco de vitamina
D. Na soma final do dia, isso pode gerar uma quantidade muito alta, que se
consumida por bastante tempo —mais de seis meses— pode levar à
intoxicação", diz Marise Lazaretti Castro, médica e professora de
endocrinologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), atual presidente
do 35º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia.
A médica alerta ainda para o cuidado com os remédios
manipulados que podem ter erros durante a manipulação e, portanto, podem levar
a um quadro de intoxicação. "De 10 anos para cá, houve um grande aumento
no número de apresentações industrializadas [da vitamina D]. As doses habituais
recomendadas na forma de comprimidos vendidos nas farmácias não têm risco de
intoxicação e são mais seguras para consumo", afirma.
Para saber se a pessoa está com vitamina D
suficiente, deficiente ou em excesso é feita uma dosagem de 25 hidroxivitamina
D no sangue. A quantidade adequada depende de alguns fatores, como idade, por
exemplo, mas, de maneira geral, os valores normais ficam entre 30 a 60 ng/ml. A
partir de 100 ng/ml já é considerado intoxicação, segundo Sergio Setsuo Maeda,
médico da disciplina de endocrinologia da EPM (Escola Paulista de Medicina) da
Unifesp e presidente da Comissão de Educação Médica da SBEM-SP (Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
É importante destacar que a intoxicação pelo excesso
de vitamina D pode contemplar todas as faixas etárias, por isso é preciso
cautela. "A suplementação só deve ser realizada mediante necessidade
individual e sob orientação do profissional de saúde", diz Sephora Louyse
Silva de Aquino, nutricionista da área clínica do Hospital Monsenhor Walfredo
Gurgel, doutoranda do programa de pós-graduação em ciências da saúde da UFRN
(Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Para se ter ideia da quantidade adequada de
suplementação via oral de vitamina D para crianças e adolescentes, os números
variam entre 400 a 600 UI (unidades internacionais) diárias. Gestantes, idosos
ou pessoas com alguma doença, como osteoporose, necessitam entre 1000 e 2000
unidades ao dia.
Problema
pode causar insuficiência renal aguda e levar à morte
A intoxicação de vitamina D pode levar ao aumento do
cálcio no sangue e causar sintomas como náuseas, vômitos, desidratação, fadiga
muscular, confusão mental, perda de apetite, emagrecimento, insuficiência renal
aguda e pode chegar ao coma e levar à morte, de acordo com os especialistas
ouvidos pela reportagem.
Nos quadros mais graves, quando há excesso de cálcio
no sangue, pode desencadear uma crise hipercalcêmica, segundo Castro. Nessas
situações, a pessoa pode ficar internada para a infusão de grandes quantidades
de soro fisiológico na veia, além de outros medicamentos para ajudar no
controle do cálcio e na função dos rins.
Nos casos em que o paciente desenvolve insuficiência
renal aguda por conta da intoxicação de vitamina D, é necessário fazer diálise
para restaurar a função renal. "Ainda que esse tratamento seja temporário,
não é raro que a intoxicação deixe sequelas nos rins, reduzindo a capacidade de
filtrar a urina. A intoxicação é realmente um problema sério de saúde e pode
colocar em risco a vida de um indivíduo, não se deve correr esse risco",
enfatiza Castro.
De acordo com Maeda, num quadro de intoxicação as
concentrações de vitamina D ficam altas durante muito tempo, de quatro a seis
meses, pois a liberação pela gordura é lenta. Nesse período, é importante se hidratar
bastante para diluir o cálcio e restringir as fontes dietéticas do mineral,
como os derivados do leite.
Como
produzir vitamina D de forma segura e saudável?
A luz solar é o principal mecanismo que leva à
produção de vitamina D, no entanto, como ela também provoca o risco de câncer
de pele, a exposição precisa ser controlada. Em situações em que não há
contraindicação, tomar sol, sem filtro solar, de 10 a 15 minutos nos braços e
nas pernas todos os dias ou de duas a três vezes por semana já é o suficiente
para produzir vitamina D. "Ninguém se intoxica por vitamina D tomando sol,
pois há mecanismos que controlam a sua formação", ressalva Maeda.
Uma outra forma, ainda que baixa (cerca de 20%), de
produzir a "vitamina do sol" é consumindo alimentos fonte dessa
substância, como peixes (sardinha, arenque, atum, cavala, salmão), óleo de
fígado de bacalhau, gemas de ovos, cogumelos shitake e fígado, segundo a
nutricionista Aquino.
Bárbara
Therrie para Uol
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